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Apesar da crise, balança comercial de Goiás tem segundo maior saldo da década

Mesmo diante do desaquecimento do comércio internacional em 2015, a venda da soja e carnes produzidos em Goiás para chineses e europeus fez a balança comercial goiana fechar o ano com o segundo maior saldo da década. As exportações somaram 5,8 bilhões de dólares e as importações 3,3 bilhões de dólares no ano passado. O saldo de 2,51 bilhões de dólares (diferença entre exportações e importações) só ficou atrás do de 2014, quando foram registrados 2,56 bilhões de dólares (variação de apenas 1,7% ou US$ 500 mil).

A movimentação de produtos goianos para o exterior no ano passado contribuiu significantemente para o saldo positivo da balança brasileira. Goiás representou 12,7% do saldo nacional, de quase 20 bilhões de dólares. Esta participação, em anos anteriores, era de cerca de 3%. Houve, em 2015, um crescimento porcentual de mais de quatro vezes em relação à média histórica. “É uma participação expressiva. A barreira geográfica existente, por estarmos distante dos portos, não tem sido empecilho para que Goiás se destaque, também, na área de comércio exterior”, explicou o secretário de Desenvolvimento Econômico e vice-governador, José Eliton.

Ao todo, foram vendidos 917 produtos produzidos e manufaturados em território goiano para 145 países. O superintendente executivo de Comércio Exterior do Estado, William O’Dwyer, afirmou que a diversificação da pauta de exportação e ampliação do número de compradores é prova do amadurecimento do Estado no comércio internacional. Segundo ele, esse desempenho foi alcançado graças às rodadas de negócios e missões comerciais realizadas pelo governador Marconi Perillo junto a empresários e representantes do corpo diplomático em atuação no Brasil e exterior.

“Foram mais de 250 reuniões com compradores estrangeiros em 2015, realizadas em sete missões, cinco eventos, seis missões recebidas e dezenas de reuniões individuais. Boa parte delas se converteu em negócios para os empresários goianos, que impactaram de forma positiva nas vendas internacionais. Isso possibilita as empresas gerarem mais emprego e renda para o povo goiano, impactando de forma positiva na economia”, explicou O’Dwyer.

O superintendente afirmou ainda que os investimentos realizados em infraestrutura pelo Estado também contribuíram para o saldo positivo e o aumento da participação da balança goiana no cenário nacional: “O programa de recuperação e reconstrução de rodovias permitiu os produtores escoar sua produção com maior agilidade para os portos. Isso gera maior competitividade, possibilitando o aumento das vendas internacionais. Acreditamos que com a concessão do aeroporto de cargas de Anápolis, construído pelo Estado, teremos um avanço ainda maior nas exportações”.

O analista de comércio exterior, Renato Anísio, disse que o câmbio foi outro fator que somou ao cenário interno para a conquista do saldo positivo no ano passado. Em 2015, a moeda americana subiu 48,49% sobre o real – o maior avanço anual em 13 anos. De R$ 2,60 no início do ano, o dólar fechou em R$ 4,01. “Em situações assim, o produtor é estimulado a vender para o mercado externo. Isso faz as vendas para fora do país crescerem muito. As commodities são as mais influenciadas por esta variação”, destacou.

Produtos e destinos

Os grãos, por sua vez, foram o carro-chefe, representando 30,85% do total vendido ao mercado externo. A soja foi o produto mais exportado por Goiás em 2015. As carnes (bovinas, de aves e suínas) participaram com 22,85%, seguido pelo milho com 11,21%. Nesta ordem, completam a lista de principais produtos: o minério ferro-ligas, 7,64%; sulfeto de cobre, 5,76%; couros e derivados, 5,53%; açúcar, 4,76%; ouro, 4,23%; amianto, 1,21%; preparações alimentícias, 0,91%; outros produtos de origem animal, 0,84%; algodão, 0,75%; e gelatinas, 0,55%.

A Ásia foi o principal mercado comprador dos produtos goianos. Os países asiáticos receberam 49% das exportações goianas, com destaque para a China que respondeu por 26% do total das exportações goianas. A Índia comprou 4,5%, Coreia do Sul, 3,5%, Hong Kong, 3%, e Vietnam, 2,9%. A União Europeia foi responsável por 21,5%, com participação de 10,2% da Holanda e de 2,8% da Itália. O Oriente Médio foi o terceiro principal mercado. Ele recebeu, em 2015, 9,4% dos produtos goianos exportados. Destaque para o Irã que comprou carnes de aves, milho e soja. A África (4,8%), Europa Oriental (4,3%) e demais blocos (10,4%) completam o destino das exportações goianas.

Os principais itens importados por Goiás foram os produtos farmacêuticos, que representaram 29,2% das compras externas; veículos automóveis e suas partes, 21%; adubos e fertilizantes, 10,3%; máquinas e aparelhos mecânicos, 10,1%; produtos químicos orgânicos, 9%; máquinas e aparelhos elétricos e partes, 4,1%; plásticos e suas obras, 2,3%; instrumentos de ótica e fotografia, 2,3%; obras de ferro fundido, ferro ou aço, 0,83%, e borrachas e suas obras, 0,81%.

A Alemanha foi a principal origem das importações goianas. Os produtos comprados do país europeu representaram 14% do total importado por Goiás. Coreia do Sul, 13,7%; Estados Unidos, 13,3%; Japão, 12,9%; China, 9%; Suíça, 4,7%; Tailândia, 4,2%; Índia, 3,1%; Canadá, 2,7%, e Rússia, 2,3%, completam o rol de principais fornecedores de mercadorias para o Estado. O vice-governador esclareceu que as importações goianas são compostas, basicamente, por produtos e insumos utilizados pela indústria goiana. “Compramos, principalmente, insumos químicos utilizados pelas empresas farmacêuticas, veículos e suas partes, e adubos e fertilizantes”.

Resultado econômico

O resultado da balança comercial é reflexo do avanço da economia goiana. Avaliação sobre o Estado divulgada no boletim regional do Banco Central indica que o Produto Interno Bruto (PIB) goiano cresceu, em média, 4,8% ao ano de 2005 a 2014, diante do aumento médio de 3,4% do nacional. O desempenho foi atribuído ao comércio, indústria de transformação (biocombustíveis, alimentos e vestuário) e setor de serviços (transporte e prestadoras de serviços a empresas).

Em 2015, a análise mostra que o PIB goiano cresceu 0,5% no período de 12 meses encerrado em junho, enquanto o País registrava retração de 1,2%. A participação goiana no PIB do Brasil também foi destacada pelo BC, passou de 2,5%, em 2004, para 2,8% em 2012 – último dado do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

No PIB do Centro-Oeste, o Estado aumentou de 27,2% para 28,8% sua representatividade, que ficou ainda em patamar inferior ao do Distrito Federal (39,8%) e superior ao Mato Grosso (18,8%) e Mato Grosso do Sul (12,7%). Segundo Túlio Maciel, do departamento econômico do BC, as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste foram as que apresentaram melhor dinâmica nos últimos dez anos. E, na última, o destaque é para Goiás pelo dinamismo da atividade econômica.

O secretário de Gestão e Planejamento, Thiago Peixoto, observou que, apesar da crise, a situação deve continuar melhor para Goiás. “As bases de nossa economia são sólidas, diversificadas e as análises, estudos e projeções técnicas que possuímos indicam que o desempenho será melhor do que o do País este ano”, disse ao citar aumento de 3,1% em agosto no setor de serviços e pelo otimismo com o último trimestre, especialmente para o comércio. Eliton mostrou que o resultado consagra conceitos como internacionalização, atração de investimentos e aprimoramento tecnológico.

Produção industrial

Grande parte das exportações de Goiás sai com produtos com valor agregado, por meio do processo de industrialização. A soja, por exemplo, passa por um processo de melhoramento antes de ser vendida. O coordenador técnico da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg), Wellington Vieira, argumentou que o bom resultado da balança é reflexo também de um parque industrial consolidado, em que a indústria da transformação é o segundo setor que mais gera emprego. “Acabou o tempo que Goiás era somente agrícola. Serviços e indústria correspondem a mais de 80% no PIB. Isso se reflete na balança comercial”, afirmou.

O crescimento da produção industrial foi de 43,7% nos últimos doze meses em relação a 2004, enquanto que no País o aumento foi de 9,3%. A evolução foi sustentada em grande parte pela indústria alimentícia. Outro destaque é a participação da indústria química e farmacêutica que juntas representam mais de 8% no Valor da Transformação Industrial (VTI). Até os anos 1990, como lembra o coordenador da Fieg, a participação era muito pequena e nesse período também houve maior inserção da indústria de veículos automotores.

As vendas mostraram maior dinamismo no Estado do que em âmbito nacional, com um aumento de 116% nos últimos 12 meses, considerando período até agosto, em relação há 2004 (84% no País), de acordo com o IBGE. Veículos, motos, partes e peças e material de construção com maior participação. “Até o ano passado, o volume de venda superava a média em todo o restante do Brasil”, pontuou o presidente da Federação do Comércio do Estado de Goiás, José Evaristo dos Santos. Menor endividamento das famílias e geração de empregos acima da média, bem como comércio mais agressivo, para ele explicam o resultado positivo.

“A balança comercial também favoreceu, passamos a ter uma exportação que cresceu e vivemos um momento ideal até junho de 2014,” destacou. Para o comércio, os meses posteriores são de baixa, levados pelo poder aquisitivo mais baixo do que em outras regiões e taxa de juros mais salgadas. “Por isso o setor primário recuperou e, com bom desempenho, foi o que salvou. Com o dólar elevado, o Estado é exportador, conseguimos equilibrar,” acrescentou Evaristo.

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