O Estado é um ninho de serpentes, cheio de pessoas mal-intencionadas, enroladas em algum tipo de esquema e precisa ser reiniciado ou algo do tipo. Retira-se uma jararaca e eis que aparecem novas espécies de cobras igualmente peçonhentas. Alguma coisa bem mais intensa, do que um processo de impeachment, precisa acontecer para que possamos acordar desse eterno pesadelo em que fomos inseridos contra nossa vontade. Nos últimos dias, surgiram novas gravações comprometedoras envolvendo políticos tradicionais e proeminentes da cena nacional. E o que se vê é que a trama para se tentar impedir o avanço da Lava Jato e também para se livrar a cara de determinadas figuras é bem maior e mais organizada do que se imaginava. O que se percebe a cada dia e pelo teor das conversas é que se a justiça avançar livremente e sem tramoias impeditivas não vai sobrar ninguém para tocar o barco chamado Brasil.
É claro que com o afastamento da Dilma, não estamos mais à deriva, porém os novos comandantes do navio ainda não estão à altura dos desafios que se apresentam no imenso mar de necessidades. E, para desespero dessas figuras, no meio do caminho existe uma enorme pedra, chamada Lava Jato, à qual quase todos os envolvidos na cúpula do poder parecem estar fadados a se chocar em algum momento, uns sendo arremessados violentamente para fora do barco e outros apenas sendo levemente feridos. Mas o fato é que todos parecem ter algo comprometedor, um interesse obscuro em alguma empresa estatal, uma fala gravada em algum momento de distração e o desejo de que alguém remova a pedra do caminho. É uma sinistra trama de quase todos contra alguns. É preciso fazer um pacto com o STF, Senado, Câmara, Planalto e até com o próprio Diabo, para se tentar salvar as principais cabeças do serpentário que ocupa sem culpa as várias instâncias do governo.
A impressão que se dá é que são apenas grupos criminosos se revezando no poder, disputando quem vai ter mais influência ou quem terá acesso às melhores oportunidades de negócios escusos. Não parece que são representantes da vontade da maioria, conforme é ostentado em seus discursos demagogos. Assusta pensar que tudo isso é sustentado por nós, mediante o pagamento de tributos, os quais deveriam ser utilizados na melhoria das estradas, das escolas, justiça e saúde, mas que acaba sendo desviado para o sustento nababesco dessa turma de privilegiados. Outros pontos que assustam são os valores envolvidos em cada transação e a quantidade sem fim de pessoas dispostas a se venderem por um projeto de poder desprovido de qualquer ideologia real.
E então o Brasil se transformou nessa nau cheia de buracos, gigante e imponente, mas totalmente impotente em face da sanha de corruptos ávidos por nossos tesouros, tal como piratas indolentes que vão de uma pilhagem a outra, sem se importarem com a vida das pessoas que sustentam a sua existência. Com tanto bandido, eu me pergunto: quem vai sobrar para tocar o barco se a justiça cumprir o seu curso?
Por Giuliano Miotto, advogado e presidente do Instituto Liberdade e Justiça